segunda-feira, 30 de julho de 2007

Elementos da Linguagem Fotográfica

A fotografia tem uma linguagem própria e o estudo dos elementos da linguagem fotográfica interessa não só pela capacidade narrativa desses elementos, como também pelo seu conteúdo dramático. Todas as formas de comunicação e, em particular a fotografia, têm uma linguagem própria. Na fotografia, a linguagem está relacionada às características e aos modos pelos quais a fotografia existe. Para chegar a seu objectivo, é necessário transpor um complexo processo técnico e, este processo, é a base da linguagem fotográfica. A base técnica da realização da fotografia determina os elementos da linguagem.

Toda a evolução tecnológica enriquece e modifica a linguagem. Podemos verificar a mudança nos valores dos elementos da linguagem com o surgimento das fotografias a cores e, mais recentemente da fotografia digital.

Como forma de orientar algum estudo teórico acerca da fotografia, descreve-se alguns elementos da linguagem fotográfica e as suas finalidades.


1. Ponto de vista e composição:


António Lacerda - Rotunda da Boavista-Porto (2001)


António Lacerda - Praia de Faro (2006)

A composição é a combinação visual dos elementos/objectos e o seu equilíbrio é produzido pela interação desses componentes visuais.

A capacidade para selecionar e dispor os elementos de uma fotografia, depende em grande parte do ponto de vista do fotógrafo. O lugar onde o fotógrafo se coloca, constitui uma das decisões mais importantes. Uma alteração do ponto de vista, pode alterar de forma drástica o equilíbrio e a estrutura da fotografia.

Por isso torna-se indispensável andar de um lado para o outro, aproximar-se e afastar-se da cena, colocar-se num ponto superior ou inferior, a fim de observar o efeito produzido na fotografia por todas essas variações. A composição nada mais é do que a arte de dispor os elementos do assunto a ser fotografado, da forma que melhor atinja os nossos objetivos.

"A composição deve ser uma das nossas preocupações constantes, até nos encontrarmos prestes a tirar uma fotografia; e então, devemos ceder lugar à sensibilidade" 
Henri Cartier-Bresson



2. Planos:


António Lacerda - Estação da Casa da Música-Porto (2001)

Os Planos determinam o distanciamento da câmera em relação ao objecto fotografado, levando-se em conta a organização dos elementos dentro do enquadramento realizado. Verifica-se que a distinção entre os planos não é somente uma diferença formal, cada um possui uma capacidade narrativa, um conteúdo dramático próprio. É justamente isso que permite que eles formem uma unidade de linguagem, a significação decorre do uso adequado dos elementos descritivos e/ou dramáticos contidos como possibilidades em cada plano.

Os planos dividem-se em três grupos principais (seguindo-se a nomenclatura cinematográfica) Plano Geral, Plano Médio, Primeiro Plano.

Plano Geral:
O ambiente é o elemento primordial. O sujeito é um elemento dominado pela situação geográfica. Objectivamente a área é preenchida pelo ambiente, deixando uma pequena parcela deste espaço para o sujeito que também o dimensiona. O seu valor descritivo está na importância da localização geográfica do sujeito e o seu valor dramático está no envolvimento, ou esmagamento, do sujeito pelo ambiente. Pode enfatizar a dominação do ambiente sobre o homem ou, simbolicamente, a solidão.

Plano Médio:
Neste plano, sujeito ou assunto fotografados ocupam uma boa parte da imagem, deixando espaço para outros elementos que deverão completar a informação. Este plano é bastante descritivo, narrando a ação e o sujeito. Os PM são bastante descritivos, diferem dos PG que narram a situação geográfica, porque descrevem a ação e o sujeito.

Primeiro Plano:
Enquadra o sujeito dando destaque ao gesto, à emoção, à fisionomia, podendo também ser um plano de detalhe, onde a textura ganha força e pode ser utilizada na criação de fotografias abstratas.

Também é comum utilizarmos a expressão "Segundo Plano" para nos referirmos a assuntos, pessoas ou objectos, que mesmo não estando em destaque, têm igualmente a sua importância. Dentro deste grupo temos ainda o Plano de Detalhe (PD), que isola uma parte do rosto do sujeito. Evidentemente é um plano de grande impacto, pela ampliação que podemos dar a um pormenor. Pode criar formas abstratas.

3. Perspectiva:


António Lacerda - Universidade do Algarve-Faro (2007)


António Lacerda - Vila Real (2004)


As fotografias são bidimensionais: possuem largura e comprimento e, para se conseguir o efeito de profundidade, é preciso que uma terceira dimensão seja introduzida: a perspectiva.

Sem dúvida a perspectiva não passa de uma ilusão de óptica. Quando seguramos um livro, mantendo o braço esticado, este objecto dará a impressão de ser tão grande como uma casa situada a uma centena de passos. Quanto mais se reduz a distância entre o livro e a casa, mais os objetos se aproximam das suas verdadeiras dimensões. Só quando o livro se encontra num plano idêntico ao da casa, é que o tamanho aparente de cada um deles equivale com exactidão ao real.

Através da perspectiva, linhas rectas e paralelas dão a impressão de convergir, objectos que encobrem parcialmente a outros dão a sensação de profundidade, e através do distanciamento dos objectos, temos a sensação de parecerem menores.

Podemos utilizar a perspectiva para criar impressões subjectivas, e o caso de efeitos de "picado" fotografar com a câmera num ângulo superior ao assunto, diminuindo-o em relação ao espectador e "Contra-picado" a câmera num ângulo inferior ao assunto criando uma sensação de poder, força e grandeza. Cada um destes recursos deverá ser utilizado de acordo com o contexto e o objectivo do fotógrafo.

4. Luz, Forma e Tom:


António Lacerda - Ruas de Xangai (2000)


António Lacerda - Ruas de Xangai (2000)


António Lacerda - Ruas de Xangai (2000)


António Lacerda - Rua de St. Catarina-Porto (2004)

A maioria dos objectos de uso diário pode ser identificada apenas pelo seu contorno. A silhueta de um vaso, colocado contra a janela, será reconhecida de imediato, porque todos nós já vimos muitos vasos antes. Contudo, o espectador pode apenas tentar adivinhar se ele é liso ou desenhado, ficando com a incerteza até que consiga observar com clareza a sua forma espacial, dependendo dessa forma da luz.

A luz é indispensável à fotografia. A própria palavra "fotografia", definida em 1839 por Sir. John Herschel, deriva de dois vocábulos gregos que significam "escrita com luz". A luz cria sombras e altas-luzes, e é isso que revela a forma espacial, o tom, a textura e o desenho.

A fotografia é afectada pela qualidade e direcção da luz. Qualidade é o termo que se aplica para definir a natureza da fonte emissora de luz.
Ela pode ser suave, produzindo sombras tênues, com contornos pouco marcados (por exemplo, a luz natural num dia enevoado). Dura, produzindo sombras densas, com contornos bem definidos (luz do meio-dia).

A altura e direcção da luz têm uma influência decisiva no resultado final da fotografia.
Dependendo da posição da luz e da fonte luminosa, o assunto fotografado poderá apresentar zonas iluminadas ou sombreadas. A selecção da direção da luz, permite-nos destacar objectos importantes ou esconder entre as sombras aqueles que não nos interessam.

Luz lateral:
É a luz que incide lateralmente sobre o objeto ou o assunto fotografado e, caracteriza-se por destacar a textura e a profundidade, ao mesmo tempo que determina uma perda de detalhes ao aumentar consideravelmente a longitude das sombras criando muitas vezes imagens confusas.

Luz direta ou frontal:
Quando uma cena está iluminada frontalmente, a luz vem por trás do fotógrafo. Este tipo de luz reproduz maior quantidade de detalhes contudo, pode anular a textura e retirar volume à fotografia.

Contra-luz:
É a luz que vem por trás do assunto, convertendo-o em silhueta. Perde-se por completo a textura e praticamente todos os detalhes.

Denomina-se Tom a transição das altas-luzes (áreas claras) para a sombra (áreas escuras). A gama de cinzas existente entre o preto e o branco.

Numa fotografia onde se vê apenas a silhueta de um objecto recortada contra um fundo branco, não existem tons de cinza. Esta será uma fotografia de alto-contraste. Uma fotografia que tem apenas alguns tons de cinza predominando o preto e o branco será considerada uma fotografia dura (bem contrastada). Já uma imagem onde predominem os tons de cinza poderá ser considerada uma fotografia suave (pouco contrastada). Existe uma "escala de cinzas" medida em progressão logarítmica, que vai do branco ao preto. Esta escala é de grande utilidade, podendo-se através dela interferir no resultado final da fotografia.

5. Textura:


António Lacerda - Palácio de Cristal-Porto (2002)


A textura e a forma espacial estão intimamente relacionadas, entendendo-se como textura a forma espacial de uma superfície. É através da textura que muitas vezes podemos reconhecer o material com o qual foi feito um objecto que aparece numa fotografia, ou podemos afirmar que em tal paisagem o campo que aparece é relva e não terra.

Uma fonte luminosa mais dura, forte e lateral, irá privilegiar mais a textura, enquanto que uma luz mais difusa, indireta, suave, poderá fazer desaparecer uma textura ou diminuir sua intensidade.

A textura pode ser considerada um factor de enorme importância numa fotografia, em virtude de criar uma sensação de tacto, em termos visuais, conferindo uma qualidade palpável à forma plana. Ela não só nos permite determinar a aparência de um objecto, como nos dá uma ideia da sensação que teríamos em contacto com ele. Podemos, através da luz, acentuar ou eliminar texturas, a ponto de tornar irreconhecíveis objetos do quotidiano.

6. Linhas e Formas:


António Lacerda - Experimenta Design-Lisboa (2005)


António Lacerda - Experimenta Design-Lisboa (2005)


António Lacerda - Experimenta Design-Lisboa (2005)


António Lacerda - Experimenta Design-Lisboa (2005)

O desenho pode transformar-se num tema, e introduzir ordem e ritmo numa fotografia que, sem ele, talvez parecesse caótica. Nos casos onde o seu efeito é muito grande, ele pode dominar a imagem, a ponto de os outros componentes perderem quase por completo a sua importância.
Linhas e formas podem ser usadas para criar imagens abstractas, subjetivas, ou para desviarem a atenção do assunto principal de uma fotografia.

7. Foco e Profundidade de Campo:


António Lacerda - Gabinete de design-Porto (2002)

Dentro dos limites técnicos, temos possibilidades de controlar não só a localização do foco, como também a quantidade de elementos que ficarão nítidos. Através destes controles, podemos destacar esta ou aquela área dentro de um assunto fotografado. É o foco que vai realçar um objecto em detrimento de outros constantes na fotografia.

8. Movimento:


António Lacerda - Serra do Marão (2006)


António Lacerda - Serra do Marão (2006)


António Lacerda - Estação da Casa da Música-Porto (2001)


António Lacerda - Estação da Casa da Música-Porto (2001)


Sempre que um objecto se move em frente da câmera fotográfica, a sua imagem projectada sobre o filme também se move. Se o movimento do objecto é rápido e a câmera fica aberta, por um tempo relativamente longo, essa imagem ou movimento será registrado como um arrasto, um tremor, ou uma forma abstracta.

Se o tempo de exposição for reduzido, esse arrasto também será reduzido ou até eliminado. Um tempo de exposição à luz curto (velocidade alta), pode "congelar" o movimento de um objecto, mostrando a sua posição num dado momento. Por outro lado, um tempo de exposição longo (velocidade baixa), pode ser usado deliberadamente para acentuar o "arrasto" ou tremor sugerindo uma sensação de movimento.



Fotografias: António Lacerda

Referências Bibliográficas:

Coleção Life A Fotografia, O Aparelho Fotográfico, Estados Unidos
Coleção Life A Fotografia, Manual Completa da Arte e Técnica, Estados Unidos
Lanford, Michael (1989). Fotografia Básica. Lisboa: Dinalivro;
Rêgo, Jorge (2001). A luz que desenha as imagens. Porto: Edições ASA
Amar, Pierre-Jean (2001). História da fotografia. Lisboa: Edições 70